MARÍLIA DE DIRCEU: UMA MULHER NA INCONFIDÊNCIA

Promovida pela Academia de Letras do MPMG, palestra de Alexandre Ibañez propõe resgate histórico no mês internacional da Mulher

Em comemoração ao dia internacional da mulher, 08 de março, a Academia de Letras do Ministério Público do Estado de Minas Gerais (ALEMP-MG) produziu evento que marcou a data e o mês que remete à reflexão e ação em torno do papel e representatividade da mulher na sociedade atual. Tratou-se da palestra realizada pelo historiador e escritor Alexandre Ibañez sobre a vida de Marília de Dirceu, e seu importante papel na Inconfidência Mineira.

A cerimônia, que é a primeira reunião cultural do ano da ALEMP-MG, foi aberta por seu presidente, Bergson Guimarães, que pôde lembrar o estado de violência à qual é submetida ainda a mulher em nosso país. “Três a cada dez brasileiras já foram vítimas de violência doméstica, e mais de 25,4 milhões de brasileiras já sofreram violência doméstica provocada por homem em algum momento da vida” disse em sua fala inicial.

O evento teve a participação da procuradora aposentada Selma Maria Ribeiro de Araújo, membra atuante da Academia de Letras, e que declamou várias liras dedicadas pelo Inconfidente Tomás Antônio Gonzaga a Marília de Dirceu. Ela foi acompanhada à flauta pelo procurador aposentado Antônio de Pádua Pontes, que deu um show à parte.

Selma Aráujo e as liras de Tomáz Antônio Gonzaga

Selma Araújo trouxe aos presentes, com grande emoção e cadência, textos lidos do livro “Marília de Dirceu”, que é a obra mais famosa de Tomás Antônio Gonzaga. A obra, pertencente ao arcadismo brasileiro, fala do amor idealizado entre Dirceu e Marília. Ali, mesmo declarando seu amor à jovem Maria Dorothea, Gonzaga demonstrava sua angústia por estar encarcerado, uma dor que encontra alívio somente na esperança de retornar, cumprido o degredo, ao afeto da mulher amada.

Marcos Paulo entrevista Alexandre Ibanhez

Seguiu-se, após a entrevista e apresentação do convidado pelo acadêmico Marcos Paulo de Souza Miranda, a palestra de Alexandre Ibañez que trouxe fatos históricos então desconhecidos da maioria dos presentes.

Ibañez é escritor e consultor de negócios acadêmicos e educacionais, com destacada experiência em coordenação de equipes e projetos, tendo atuado em empresas nacionais e multinacionais em diversos segmentos. O palestrante é autor do livro Maria Dorothea – a musa revelada, de 2006, que se tornou uma biografia básica sobre Marília de Dirceu.

Fazendo uma conexão com filmes famosos, Ibañez pôde discorrer com desenvoltura pela história mineira, explicando fatos e locais, na antiga Outro Preto e a origem de expressões pitorescas que usamos hoje em dia. Através de imagens importantíssimas, o escritor apresentou todo o curso de sua pesquisa, além da descoberta de novos documentos sobre a história de Marília de Dirceu e de como se deu a construção do mito em torno dela.

Ao final, durante a conversa entre os acadêmicos e presentes ao evento, lembrou-se da frase histórica, nos idos de 1960, da filósofa e ativista francesa Simone Beauvoir que “é pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta”. A frase proferida à época pela escritora, representou a antecipação das enormes conquistas que as mulheres iriam alcançar nas décadas seguintes.

Aos presentes ficou a impressão de que a inconfidência mineira foi uma tentativa de revolução, e que teve um papel essencial de fortes mulheres, ainda não reconhecido.

Acadêmica Mônica Sofia entrega certificado ao palestrante

Ao final os pesquisadores Marcos Paulo, e o próprio palestrante, lembraram que a proximidade dos personagens pesquisados, através de detalhes de toda sua história de vida, entre os fatos verdadeiros e as interpretações, faz com que o pesquisador sinta a personagem como alguém da convivência muito próxima, voltando no tempo.

O evento teve o apoio da Associação Mineira do Ministério Público, que tem sua sede à Rua dos Timbiras, 2928, em Belo Horizonte e foi prestigiado por membros e funcionários da Associação e do Instituto e Histórico de Minas Gerais, por acadêmicos da Academia de Letras do MP, professores, advogados, vários promotores e promotoras e servidores do MP.